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Observatório:
Entrevista a Ângela
Romanito

Observatório:
Entrevista a Ângela Romanito


Entrevista publicada no ARGUMENTO 177
Dezembro 2023




Com o desejo de seguir artes desde cedo, no 10.º ano, Ângela Romanito escolheu Artes Visuais, e está nesta altura a terminar a Licenciatura em Artes Plásticas e Multimédia. A presente edição deste Observatório resulta da iniciativa CINEMA ILUSTRADO, pensada pelo Cine Clube e ESEV, neste ano. Na sequência da convocatória aberta a trabalhos artísticos da comunidade artística da ESEV, os dez melhores trabalhos — seleccionados de acordo com a qualidade técnica, conceito e criatividade — foram seleccionados para integrar a exposição CINEMA ILUSTRADO, como também, no caso do trabalho da autoria de Ângela Romanito, a oportunidade de publicação na revista ARGUMENTO.

Quando é que a tua vida se começou a cruzar com o gosto pelo desenho?
Bom, tenho 23 anos e desde que me entendo por gente, sempre fui fascinada pelas artes. Lembro-me de estar na primária e escrever que queria ser desenhista e pintora quando “crescesse”. O interesse pelo desenho começou a florescer na infância, mas foi por volta dos 14 anos que mergulhei mais profundamente nesse universo, explorando técnicas como grafite, carvão e, posteriormente, expandindo para aquarela, acrílico, pintura a óleo e arte digital.

Estiveste na exposição “Cinema Ilustrado”, com o trabalho aqui publicado, e tens outras exposições no percurso do curso?
Sim, para além do trabalho do Drive My Car na exposição “Cinema Ilustrado”, também tive a oportunidade de participar na exposição “Solstício, 2023”. Nesta ocasião, apresentei uma pintura a óleo do “Baby Yoda” e uma escultura única em papier machê. Participar nessas exposições foi uma experiência enriquecedora que me permitiu explorar e compartilhar diferentes facetas da minha expressão artística, que, até então, só partilhava no Instagram.

Drive My Car foi uma opção imediata, ou existiu uma lista de candidatos alternativos?
À procura de inspiração, fui explorar as sugestões do Cine Clube de Viseu e deparei-me com este filme que já conhecia. A necessidade de rever a obra foi impulsionada pela onda de emoções que despertou em mim. A escolha não se limitou à familiaridade, foi também motivada pela intensidade emocional da trama, que transita entre momentos de melancolia profunda e redenção. Sob o impacto dessa carga emocional, surgiram ideias para a composição visual, incorporando elementos importantes da história. Destacou-se o momento marcante do abraço, que simboliza não só a conexão entre personagens, mas também a superação de desafios e a celebração de um vínculo especial.

Baby Yoda, pintura a óleo apresentada na exposição "Solstício, 2023"
Se, em Portugal, o mercado de trabalho para os jovens é difícil, talvez a área em que te formaste seja uma das mais críticas. Os teus objectivos próximos estão relacionados com a área artística, ou tens outras perspectivas?
Os meus objectivos imediatos estão centrados na conclusão da Licenciatura, e em procurar oportunidades que me permitam crescer como artista, tais como exposições, colaborações e projectos independentes. Neste momento, consigo alguns trabalhos de desenho e/ou pintura através de encomendas personalizadas, e embora não seja a minha principal fonte de sustento, representa a oportunidade de divulgar alguns dos meus trabalhos e servem como gestos de carinho para alegrar/homenagear outras pessoas, o que me deixa feliz.
Para o futuro, tenho um interesse genuíno em realizar actividades artísticas com crianças, como Actividades de Enriquecimento Curricular, contribuindo assim para o seu desenvolvimento. Pretendo direccionar todas as minhas actividades no campo das artes, com um foco especial na ilustração, pintura ou até mesmo na modelação 3D, uma área que explorei durante o curso e que despertou o meu interesse. Reconheço que não será fácil, mas também não vejo como algo completamente impossível. Portanto, sim, vou procurar estabilidade profissional nesta área.

Acredito na coexistência harmoniosa entre a expressão artística humana e a Inteligência Artificial. Podemos unir a visão e emoção humanas com a análise da IA para explorar novos territórios artísticos. Com isto, podemos preservar e evoluir o mundo das artes, mantendo a magia que só nós, artistas humanos, podemos proporcionar.



A popularidade crescente em torno das tecnologias de Inteligência Artificial tem levantado questões relativas ao impacto social e discussões sobre as mudanças que provocará, dividindo especialistas e, também nesta área, artistas. Vês um cenário disruptivo a aproximar-se, ou a IA não será tão radical nas suas consequências?
Pessoalmente, encaro a evolução da ia como algo transformador e, no âmbito das artes, como uma ferramenta de apoio para enriquecer a criatividade humana. Dado que esta ascensão é inevitável, é mais vantajoso encará-la não como uma ameaça, mas como uma oportunidade. Não esquecendo que a autenticidade da expressão humana em cada pincelada e traço, por exemplo, é algo que a ia não consegue replicar completamente. A sensação única de receber ou ter uma pintura original é incomparável, assim como a presença da arte ao nosso redor, destacando a importância dos objectivos e sensações únicas dos artistas.
Acredito na coexistência harmoniosa entre a expressão artística humana e a IA. Podemos unir a visão e emoção humanas com a análise da ia para explorar novos territórios artísticos. Com isto, podemos preservar e evoluir o mundo das artes, mantendo a magia que só nós, artistas humanos, podemos proporcionar.



O RESULTADO DA COLABORAÇÃO DE ÂNGELA ROMANITO COM O ARGUMENTO: UMA ILUSTRAÇÃO BASEADA EM “DRIVE MY CAR” DE Ryûsuke Hamaguchi DE 2021
Para terminar, pedia-te que nos contasses alguns filmes que marcaram o teu gosto e estilo.
Claro! Alguns filmes que realmente me marcaram incluem Birdman (2014), conhecido pela sua técnica cinematográfica inovadora ao explorar as pressões da fama e da identidade artística; A Ghost Story (2017), um drama sobre o tempo e a existência; Don't Look Up (2021), uma sátira social envolvente; e o mais recente The In Between (2022), que destaca a complexidade do cinema contemporâneo.



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