ARGUMENTO
Novo Argumento
29.09.2025
Número 183
Setembro 2025, 40 págs.
2025 avança e as edições do ARGUMENTO prosseguem. No novo número, as entrevistas a figuras centrais da produção cinematográfica portuguesa recente, os ensaios dedicados ao cineclubismo, ao Cinema Português, e ao Cinema Independente vindo do Estados Unidos e da China, entre outros. Sempre em papel. Graças a autores, designers, ilustradores, associados, assinantes, leitores conscientes e resistentes, uma edição com pergaminhos na história do Cine Clube. 📗
Setembro 2025, 40 págs.
2025 avança e as edições do ARGUMENTO prosseguem. No novo número, as entrevistas a figuras centrais da produção cinematográfica portuguesa recente, os ensaios dedicados ao cineclubismo, ao Cinema Português, e ao Cinema Independente vindo do Estados Unidos e da China, entre outros. Sempre em papel. Graças a autores, designers, ilustradores, associados, assinantes, leitores conscientes e resistentes, uma edição com pergaminhos na história do Cine Clube. 📗
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ARGUMENTO 183: com rubricas, ensaios e ilustrações dos nossos ilustres colaboradores César Gomes, Edgar Pêra, Rita Palma, Gonçalo Malaquias, Diogo V. Machado, Carlos Losilla, David Santos, Bruna Ferreira, Cineclube Ó Lhó Lhó... — agradecemos a todos!
E também os nossos caros leitores podem apoiar o projecto, divulgando ou propondo a assinatura a um amigo. 5 edições = 15 euros.
📚 Assinaturas disponíveis aqui
📘 Boas leituras!
ARGUMENTO 183: com rubricas, ensaios e ilustrações dos nossos ilustres colaboradores César Gomes, Edgar Pêra, Rita Palma, Gonçalo Malaquias, Diogo V. Machado, Carlos Losilla, David Santos, Bruna Ferreira, Cineclube Ó Lhó Lhó... — agradecemos a todos!
E também os nossos caros leitores podem apoiar o projecto, divulgando ou propondo a assinatura a um amigo. 5 edições = 15 euros.
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ÍNDICE DE ARTIGOS
︎ACTORES ESTRANGEIROS NO CINEMA PORTUGUÊS Entre imigrantes e estrelas de Hollywood, a história dos actores estrangeiros no cinema nacional ainda não foi feita. Rita Palma começa por propor um breve dicionário.
︎BETTE GORDON César Gomes apresenta um obscuro e precioso tesouro do indie americano.
︎FILMES PEDIDOS No ano em que o Cine Clube completa 70 anos, há um ciclo de cinema programado pelos seus sócios.
︎LOST IN SPACE Filme inspirado pela música de Sula Bassana e com estreia mundial no festival de Oldenburg em Setembro. As novidades de Edgar Pêra.
︎BETTE GORDON César Gomes apresenta um obscuro e precioso tesouro do indie americano.
︎FILMES PEDIDOS No ano em que o Cine Clube completa 70 anos, há um ciclo de cinema programado pelos seus sócios.
︎LOST IN SPACE Filme inspirado pela música de Sula Bassana e com estreia mundial no festival de Oldenburg em Setembro. As novidades de Edgar Pêra.
︎FAZER O CINEMA ACONTECER EM PORTUGAL Abel Ribeiro Chaves (Optec) e Luís Urbano (O Som e a Fúria) em entrevistas sobre as engrenagens da actividade.
︎DEAMBULAÇÕES Sétimo capítulo do Diario de Cine do escritor e professor catalão Carlos Losilla.
︎OBSERVATÓRIO Em 2025, o verso do ARGUMENTO tem contado com o trabalho vibrante de Bruna Ferreira: depois de Hitchcock e Lynch, desta vez traz-nos Tati.
︎E ainda... Livros do Trimestre e Bilhete-Postal do Cineclube Ó Lhó Lhó (Florianópolis, Brasil).
︎DEAMBULAÇÕES Sétimo capítulo do Diario de Cine do escritor e professor catalão Carlos Losilla.
︎OBSERVATÓRIO Em 2025, o verso do ARGUMENTO tem contado com o trabalho vibrante de Bruna Ferreira: depois de Hitchcock e Lynch, desta vez traz-nos Tati.
︎E ainda... Livros do Trimestre e Bilhete-Postal do Cineclube Ó Lhó Lhó (Florianópolis, Brasil).
EDITORIAL
Quando a escrita for, como o cinema já é, uma coisa de nicho, vamos provavelmente estar já a imaginar quando a fala se tornar uma coisa de nicho. E quando a fala for uma coisa de nicho, vamos todos morrer. Esperemos.
Mas antes disso, quando a escrita for uma coisa de nicho, vai ser tudo muito útil e muito lucrativo, vai haver harmonia e ideias todas iguais, vai acabar a guerra e haver muito respeitinho, vamos ter a liberdade maciça de incontáveis opções, vai-se avançar rápido e chegar a todos os destinos, vai haver pouca parra e pouca uva.
Nessa altura, as canetas vão ser muito mais caras, mesmo as Bics, e manter um diário será considerado um capricho extravagante, se não um vício patológico. Com o fim daquela forma de pensamento, acabar-se-á, curiosamente, a última réstia material da experiência, e a forma das coisas será apenas uma intuição.
Quando escrever já não se usar, talvez o ARGUMENTO adquira uma função reforçada de resistência. Esperemos que ainda exista — esperamos que exista por todos os tempos, claros e obscuros. (Porquê? Que ponto fraco é este que nos faz querer ser fortes? Que desejo é este de sobreviver, de deixar vir as criancinhas a um mundo desgraçado? Deve, sim, ser fruto de uma raiva a nascer-nos nos dentes, mas também de um doce acerto, de um gáudio distraído.) Se gostaríamos de existir nesse tempo, que estas páginas existissem nesse tempo, não é pelo sentido que elas imprimem às horas que passamos a lê-las e a escrevê-las, nem porque desejamos abrir um feixe de esperança que acenda os coraçõezinhos apagados dos seres perdidos que então habitarão a Terra. É antes, admitamo-lo de uma vez, porque queremos que estremeçam e se abespinhem e que o Diabo os carregue.
Isto é, a Rita Palma andou a escavar décadas do nosso cinema à cata de actores estrangeiros, o César Gomes vê filmes até começar a pensar como eles, o Carlos Losilla confinou-se com o cinema e deu disso um sentido à sua vida pandémica, o Edgar Pêra passa horas a ensinar máquinas a sonhar com poetas mortos, o Gonçalo Malaquias pegou em dez horas de Wang Bing e espremeu-as em duas páginas, e vocês queriam o quê? Telenovela, era?
Há um quadro de [Paul] Klee intitulado Angelus Novus [1920]. Representa um anjo que parece preparar-se para se afastar de qualquer coisa que olha fixamente. Tem os olhos esbugalhados, a boca escancarada e as asas abertas. O anjo da história deve ter este aspecto. Voltou o rosto para o passado. A cadeia de factos que aparece diante dos seus olhos é para ele uma catástrofe sem fim, que incessantemente acumula ruínas sobre ruínas e lhas lança aos pés. Gostaria de deter-se para acordar os mortos e juntar os fragmentos. Mas um vendaval sopra do paraíso e prende-se às suas asas com tanta força que já não as pode fechar. Esse vendaval impele-o irresistivelmente para o futuro, ao qual ele vira as costas, enquanto o amontoado de ruínas cresce até ao céu. Esse vendaval é aquilo a que chamamos progresso.
— Walter Benjamin, O Anjo da História (trad. João Barrento)
Quando a escrita for, como o cinema já é, uma coisa de nicho, vamos provavelmente estar já a imaginar quando a fala se tornar uma coisa de nicho. E quando a fala for uma coisa de nicho, vamos todos morrer. Esperemos.
Mas antes disso, quando a escrita for uma coisa de nicho, vai ser tudo muito útil e muito lucrativo, vai haver harmonia e ideias todas iguais, vai acabar a guerra e haver muito respeitinho, vamos ter a liberdade maciça de incontáveis opções, vai-se avançar rápido e chegar a todos os destinos, vai haver pouca parra e pouca uva.
Nessa altura, as canetas vão ser muito mais caras, mesmo as Bics, e manter um diário será considerado um capricho extravagante, se não um vício patológico. Com o fim daquela forma de pensamento, acabar-se-á, curiosamente, a última réstia material da experiência, e a forma das coisas será apenas uma intuição.
Quando escrever já não se usar, talvez o ARGUMENTO adquira uma função reforçada de resistência. Esperemos que ainda exista — esperamos que exista por todos os tempos, claros e obscuros. (Porquê? Que ponto fraco é este que nos faz querer ser fortes? Que desejo é este de sobreviver, de deixar vir as criancinhas a um mundo desgraçado? Deve, sim, ser fruto de uma raiva a nascer-nos nos dentes, mas também de um doce acerto, de um gáudio distraído.) Se gostaríamos de existir nesse tempo, que estas páginas existissem nesse tempo, não é pelo sentido que elas imprimem às horas que passamos a lê-las e a escrevê-las, nem porque desejamos abrir um feixe de esperança que acenda os coraçõezinhos apagados dos seres perdidos que então habitarão a Terra. É antes, admitamo-lo de uma vez, porque queremos que estremeçam e se abespinhem e que o Diabo os carregue.
Isto é, a Rita Palma andou a escavar décadas do nosso cinema à cata de actores estrangeiros, o César Gomes vê filmes até começar a pensar como eles, o Carlos Losilla confinou-se com o cinema e deu disso um sentido à sua vida pandémica, o Edgar Pêra passa horas a ensinar máquinas a sonhar com poetas mortos, o Gonçalo Malaquias pegou em dez horas de Wang Bing e espremeu-as em duas páginas, e vocês queriam o quê? Telenovela, era?
Há um quadro de [Paul] Klee intitulado Angelus Novus [1920]. Representa um anjo que parece preparar-se para se afastar de qualquer coisa que olha fixamente. Tem os olhos esbugalhados, a boca escancarada e as asas abertas. O anjo da história deve ter este aspecto. Voltou o rosto para o passado. A cadeia de factos que aparece diante dos seus olhos é para ele uma catástrofe sem fim, que incessantemente acumula ruínas sobre ruínas e lhas lança aos pés. Gostaria de deter-se para acordar os mortos e juntar os fragmentos. Mas um vendaval sopra do paraíso e prende-se às suas asas com tanta força que já não as pode fechar. Esse vendaval impele-o irresistivelmente para o futuro, ao qual ele vira as costas, enquanto o amontoado de ruínas cresce até ao céu. Esse vendaval é aquilo a que chamamos progresso.
— Walter Benjamin, O Anjo da História (trad. João Barrento)

FAZER O CINEMA ACONTECER EM PORTUGAL
Retomamos a edição do ARGUMENTO na companhia do dossier de entrevistas a produtores de cinema. Até certo ponto, os produtores não são os protagonistas mais destacados do cinema, mas através deles vislumbramos aspectos fundamentais deste meio.
Veja-se o que Luís Urbano, da produtora O Som e a Fúria, explica na sua entrevista a Diogo V. Machado: "Não temos uma tradição de associativismo, como país. E isso é uma enorme lacuna. Os problemas não são só do ICA - também temos a nossa parte de culpa.”
Claro que o balanço se faz no fim, mas auguramos um dossier importante para acompanhar nos próximos números.
Retomamos a edição do ARGUMENTO na companhia do dossier de entrevistas a produtores de cinema. Até certo ponto, os produtores não são os protagonistas mais destacados do cinema, mas através deles vislumbramos aspectos fundamentais deste meio.
Veja-se o que Luís Urbano, da produtora O Som e a Fúria, explica na sua entrevista a Diogo V. Machado: "Não temos uma tradição de associativismo, como país. E isso é uma enorme lacuna. Os problemas não são só do ICA - também temos a nossa parte de culpa.”
Claro que o balanço se faz no fim, mas auguramos um dossier importante para acompanhar nos próximos números.
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